sexta-feira, 21 de setembro de 2007

A alguém...


Pronto...

Fechei os olhos e apertei minhas mãos uma contra a outra.
Deixei os passos firmes e levantei o queixo.
Olhei adiante e segurei novamente a expiração, forçando os olhos como se fixasse ao longe uma imagem uniforme.

A uma distancia suficientemente longe soltei de dentro do peito uma intensa vontade de sorrir.
O tipo de sorriso pensativo e tenro, terno em um instante e sangrento em um inferno de lembranças que atravessaram minha mente.
Não sorri... Mas de minha boca disse a mim mesmo:

“Pronto! Está consumado”.

Então atravessei a noite e colori meu céu de imagens, das mesmas imagens envelhecidas, das mesmas expectativas nunca saciadas.
Dos mesmos sonhos nunca realizados, das mesmas palavras nunca ditas e do mesmo argumento que torna a madrugada fria e solitária como chumbo.
Minhas mãos tremiam, meus dedos se esfriavam e meu violão se calava.

Em meu abrigo de vida e de razões fui coberto pela retrospectiva que faz o filho quando o pai se vai.
Mantive aceso o olhar e aquecido o coração para esquecer das coisas ruins e salientar o que foi bom.

Então...

Lembrei-me da aliança de gravetos...
Do encaixe perfeito de nossas mãos na igreja...
Dos beijos as escondidas em casa...
Lembrei-me dos abraços intermináveis e de como o meu corpo se acalmava quando sentia teu coração colado ao meu peito...
Do seu sorriso quando na coreografia...
Do gosto de sua boca entorpecendo minhas pernas, esfriando meu estomago e acalmando meus medos.

Lembrei-me quando disseste que queria ser minha esposa e de como planejamos as datas...
Lembrei-me de quando me olhavas enquanto eu riscava acordes do “Tempo” em meu violão...
De quando adormecia em meu colo próximo a fogueira no acampamento.
De quando disseste que eu ainda mexia com você quando estávamos afastados...
Lembrei-me de nossos medos anulados quando estávamos juntos.

Lembrei-me que sonhaste que fazíamos compras juntos...
Lembrei-me do teu perdão quando errei e de como não querias ir embora sem saber se ficarias comigo...
Lembrei-me de que teu pai falara a ti para conhecer o homem de tua vida antes que ele morresse...
De quando me esperou voltar da faculdade para me desejar feliz aniversário.
De quando me deu o perfume...

Lembrei-me de tua primeira carta...
E de quando escreveu que me amava em chinês em uma folha de acordes...
Lembrei-me que um dia fomos felizes juntos...
Lembrei-me daquela terça feira a noite quando olhamos para as luzes da cidade e eu tive certeza de que passaríamos o resto de nossas vidas um ao lado do outro.
Lembrei-me do nosso primeiro ano novo juntos...
De quando pagamos mico dançando valsa no aniversario da Raquel...

De quando fugimos da festa para longe porque você não queria ir embora para tua casa...
De quando passávamos o horário do almoço conversando no MSN.
De quando dormimos juntos e você vestiu minha camisa mofada...
De quando chorei de amor por você, a única que me fez chorar de amor.
Lembrei-me quando te deixei um chupão na barriga...

Lembrei-me de quando nos mordíamos e você ficava cheia de marcas...
Lembrei-me quando fomos ao show do Toque no Altar juntos.
Lembrei-me de quando te vi pela primeira vez, uma criança de 11 anos diante do meu portão.
Lembrei-me de quando se tornou moça...
Lembrei-me de quando usava aquele tênis azul transparente com meias brancas e calça de bailarina.
Do teu All Star Vermelho.
Do teu Colossh e de como você cuidava dele com carinho...
De quando penteava teu cabelo para trás e deixava duas franjinhas diante do rosto.

Lembrei-me quando passava as mãos pelo meu cabelo quando eu deitava em teu colo...
De como passava a mão pelo meu rosto e odiava quando eu não fazia a barba.
Lembrei-me quando mudei de serviço e comemos pizza com a galera, eu sentei no chão, você roubou meu queijo e me chamou de amor.
Lembrei-me de quando te vi de vestido rosa pela primeira vez no aniversário da Celice, você sorriu bastante quando me viu, e eu me senti o cara mais sortudo do mundo.
Lembrei-me de quando num dia 25 de novembro nos separamos...
Lembrei-me quando voltamos...
Lembrei-me quando usaste aquela blusinha preta do super-man pela primeira vez...
Lembrei-me do teu aniversário de 14 anos quando chorastes de felicidades...
Lembrei-me de quando comi teu bolo de cenoura pela primeira vez, teu arroz e tua salada...

Lembrei-me quando voltávamos juntos da igreja...
Quando deitamos juntos na cama de minha mãe e você segurou minha bochecha e disse “Que gracinha”.
Lembrei-me de ter te visto crescer...
Lembrei-me de quando nos encontramos no parque da cidade escondidos em teu aniversário de quinze anos.
Lembrei-me de procurarmos sorvete pela cidade inteira e encontrarmos apenas em uma farmácia...
Lembrei-me de te ver dentro do ônibus indo embora me olhando e dizendo “Eu te amo”, você usava aquela blusinha amarela que teu pai te dera.

Lembrei-me de quando te carregava naquela bicicleta rosa que eu tinha...
Lembrei-me de quando senti ciúmes de você pela primeira vez com o Reger...
Lembrei-me que quando tudo parecia que ia desabar a gente conseguia dar a volta por cima e ficávamos juntos...
Lembrei-me de quando escondias cartas de amor na minha bíblia para que eu encontrasse...
Você cresceu...

Lembrei-me, lembrei-me e quando terminei de lembrar o que não se da para escrever porque foi muito, deitei em minha cama e apaguei a luz.
As estrelas mais uma vez vieram saber como eu estava.

Eu abri os olhos e disse:

“Estou bem, as coisas são como são, fiz minhas escolhas e ela as dela”.
Esperei o sono chegar e naquela noite pedi a Deus para que nunca mais me deixasse sonhar com você, pois o que faltava acontecer aconteceu.
E no final de tudo resta apenas as lembranças...
Para mim só das coisas boas, porque o que foi triste, bem seria uma tristeza lembrar...

Naquela noite sonhei que caminhava pela rua ouvindo “O Tempo” do Oficina G3.
Fechei os olhos e apertei minhas mãos uma contra a outra.
Deixei os passos firmes e levantei o queixo.
Olhei adiante e segurei novamente a expiração, forçando os olhos como se fixasse ao longe uma imagem uniforme.
Não havia nada, apenas você e ele encostados no muro da escola...

Quando estava longe o suficiente disse a mim mesmo:
“Adeus Querida Elisaene, pronto, está consumado e enfim o fim chegou”

“Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre, sem saber que o pra sempre, sempre acaba?
Mas nada vai conseguir mudar o que ficou... Estamos indo de volta pra casa...”

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